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Foto do escritorRebecca Aletheia

Arte Rupestre em Manica - Moçambique


Por diversas vezes passei pela estrada e via indicação da arte rupestre em Manica, uma amiga comentava diversas vezes que eu deveria ir.




O dia chegou, eu já tinha ido em alguns sítios arqueológicos porém rupestre, nunca, eu não me recordo!



Resolvi conhecer, às 11 da manhã estávamos na região e eu avistava casinhas tradicionais, e advinha? A casa que eu mais amei era a casa da Dona Filomena, na estrada as crianças gritavam e davam tchau.




Perguntamos como deveríamos fazer para ir na arte rupestre e não deu outra, era na casinha que eu tinha amado, a casa da dona Filomena e por vezes desejava que fosse minha. Voltamos e lá estava dona Filomena a observar nossa movimentação pela estrada. Pedimos a sua licença para entrar em seu terreno, ela colocou um banco e uma cadeira embaixo da árvore e se sentou em sua esteira.





Ela não fala português, fala ximanica, o motorista que estava comigo conseguia se comunicar com ela, bastava. Sentamos debaixo da árvore e perguntávamos sobre como chegar na arte rupestre. Ela explicou tudinho e que era lá mesmo mediante ao pagamento do guia, resolvemos voltar no outro dia, mais cedo assim seria mais fácil para nós que tínhamos viajado o dia todo. Não sabíamos quanto tempo demorava e não queríamos uma visita drive thru.


Nos despedimos, e fomos embora, arrisquei a falar oi e tchau em ximanica e ela dava risada. Acho importante esse respeito em se importar com a língua do outro, é um ótimo jeito de abrir caminhos.


O grande dia chegou... sinceramente eu estava calma, tranquila e acho que não imaginava a imensidão do que me esperava... retornamos as crianças encontravam-se nós mesmos quintais e agora já tinham mais proximidade pq nos viram ontem e hoje.


Dona Filomena novamente nos recebeu com os bancos e se sentou no chão... dissemos que queríamos ir visitar a rupestre ela trouxe o livro de registro de visitas e recebeu o dinheiro. Super organizado e muito bem feito...


Eu curiosa que sou fui olhar a data da última visita dia 23/04/19, ou seja, 11 dias sem receber visitas. Fui ver quem eram os visitantes, muitos nativos da região e contava-se que uns 3 brasileir@s tinham passado pelo lugar. Alguns estrangeiros europeus tbm, mas sua totalidade eram de locais, mas lembrem, não eram muitos.


Após todas as formalidades Filomena entrou dentro da casa, esperamos eis que ela volta com seu uniforme de guia. Espera lá, o uniforme de guia era uma camiseta e sua Capulana enrolada ao corpo. Descalça, seguimos em direção às artes, mas primeiro iríamos passar por uma trilha.





Confesso que meu coração batia mais forte em ver uma mulher, negra, africana, mais velha sendo minha guia. Acho que nunca na minha vida eu vivenciei isso, eu estava feliz e em meu sorriso era notório tanta felicidade. Por essa eu não esperava.


A trilha era nível médio, eu me encontrava muito suada em percorrer 2,5 km; eu não me sentia cansada mas tinha muito suor a escorrer em meu rosto e pelo meu corpo. Meu vestido rasgava, ahhh eu faço trilha de vestido, as vezes, planejamento zero nessas horas, a louca... depois dizem que blogueiras de viagem São organizadas, eu não sou algumas bastante vezes.


Ahhh Dona Filomena, ao andar na trilha e em sua subida ela ia com uma leveza que parecia uma modelo em sua passarela chamada floresta, eu ia acompanhando fotografando e me sentindo a amiga da top model e tentando imitar a mesma leveza, até levar um escorregão que ela deu uma risada ao me ver escorregando por duas vezes.




Ao chegar na parte rochosa, eu fiquei admirada com tanta beleza só com as rochas, pedras imensas. Eu só sabia agradecer por estar ali, mas ainda não era nada, quando chegamos nas artes, quase caí de costa! Era muito lindo de se ver e muito intenso de se sentir.


Filomena ajoelhou e fez uma reza pedindo aos ancestrais a licença para entrarmos neste espaço sagrado. É sagrado, eu podia sentir, eu pedia permissão para entrar também por ali. Perguntei sobre a história daquele lugar, ela disse ser um lugar sagrado para realizar a cura em épocas em que não se existia hospitais. Muitos tratamentos de lepra eram realizados ali, com as ajudas dos deuses.

Sua história em cuidar e ter aquele espaço como seu, foi de gerações em gerações, ela é a guardiã do espaço agora, é ela quem leva todos os turistas.



Ela contou a história de quando os brancos( a expressão como ela usou) portugueses chegaram querendo entrar, ela disse que precisariam comprar Capulana, inchadas, fações e outras coisas para que pudessem entrar. Após trazerem todas as coisas solicitaras foram autorizados a entrar, entraram! E adivinha? Eles ficaram admirados por aquele local.





Bota que è o motorista fazia toda a tradução, ela explicava todos os detalhes e Bota traduzia tudo.

Ao irmos embora Bota pediu para fazer uma oração pela abertura do espaço pra gente, por nos deixar chegar até lá. Recebíamos essa bênção.



Filomena disse que nós precisávamos ir à frente, ela viria atrás, Ao me virar e ir embora dava de cara com uma janela de pedras e uma vista incrível da Manicaland. Era incrível, lindo de mais, olhei para trás e Filomena estava a fazer sua prece pedindo licença para irmos embora.




Com tanta graça eu só agradecia e enviava todas as minhas singela gratidão por estar ali e compartilhando toda a energia recebida as minhas companheiras de projeto e minha família.

Bota perguntou se alguém for por conta seguir a trilha. Filomena foi perspicaz em dizer, não chega! Esse caminho é secreto e ninguém chega, é protegido.


Eu acredito, essa coisa dos espíritos que se fazem presente por lá. quando ela ia andando ao fundo parecia ir fechando o caminho com sua reza. A trilha è nível médios, lembra? Então ela fazia mesmo uma rota que não posso me recordar.


TáFica umbá cuedu (escrevo como se fala) - chegamos em casa - no dialeto ximanica, foi assim que disse Bota. Voltamos na casa da dona Filomena, nos sentamos novamente no banco e na cadeira embaixo da árvore, como forma de respeito agradecendo a hospitalidade e o momento que estivemos junt@s.


Foi um dia lindo um momento mágico, Bota o motorista agradeceu tanto pelo lindo dia que tivemos e relatava que dona Filomena parecia estar muito feliz com nossa presença.


Estava, eu sentia e nós estávamos mais felizes ainda.


Datenda - obrigada

Datenda dona Filomena

Datenda nossos antepassados

Datenda por este momento

Datenda Bota por ter paciência comigo e me levar lá




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