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Moda e viagem, viagem e moda por Rebecca Alethéia




Eu não sou do mundo da moda e nem tenho pretensão de entrar neste mundo. Mas eu preciso dizer que ao longo da minha história obviamente quando a gente se encontra, quando nos conhecemos como parte neste mundo se vestir flui e não se torna um peso, se torna algo prático. Mas chega de romance amiguinhxs, antes de mostrar por onde eu vivi e por onde passei precisamos mostrar a caminhada.


Criar a minha identidade pessoal em uma infância discriminatória, racista e machista fora do meu ambiente familiar foram sempre muito difíceis porém sempre me fortaleceram, longe de mim ser a super poderosa, a melhor bla, bla, bla. Saiba que essa não é questão de me enaltecer porque eu não preciso disso. Mas é pensar de onde surgiu esse EU!


Como criar minha identidade após anos/décadas as minhas roupas serem mencionadas como baiana? Como conseguir sobreviver sã com esse assa grave discriminação racista e xenofóbica, o que me fez a ter a minha consciência política de que SIM! Eu estou BAIANA e isso para mim significa que eu estou mais linda.


Meus avós, nesse caso os três, Vó Alice, Vó Maria e Vô Sebastião vieram da Bahia e sempre nos ensinaram a ter orgulho e quanto a Bahia tinha muito a contribuir para todo o Brasil e eu não tenho dúvida, eles estavam certo, mostrando a sua importância na história, certamente meus irmãos e primos lembram da vó Maria dizendo todos os artistas baianos e sua importância para a nossa valorização cultural.


Eu sofri, ahh sofri muito, mas nunca deixei de ser eu, ter a minha personalidade, de ser livre em fazer minhas escolhas. Já contei para vocês no relato da minha história profissional parte 3 sobre como foi dolorosa a minha questões com roupas até para ser aceita no meu grupo de amigas quando eu usava uniforme para ir na escola no período do noturno quando não era obrigatório e quase ninguém usava.


Misturo cores, hoje você diz ser bonito mas por muito tempo eu ouvi ser dito como ridículo. Doeu, mas eu nunca esmoreci, eu sobrevivi, o que você diz ser moda hoje, eu te digo, foi a minha teimosia e resistência.


Sempre fui apaixonada por cores e tenho um pai que tem muito estilo até mais que mamãe, tudo tem que se conectar, combinar, ser original e autêntico. Aprendi a importância de valorizar os artesãos e os produtores locais que não há preço que pague esse trabalho e reconhecer quem produz.


Eu nem preciso dizer que eu AMO CORES e poder viver por mais de um ano nos países dos tecidos(Tadjiquistão e Moçambique) foi uma realização, era como se eu estivesse no universo mágico das cores, se você der um Google sobre Tadjiquistão você não irá encontrar muitas informações e para a minha alegria ao chegar por lá o país é colorido e cheio de tecidos um mais lindo que o outro, cada esquina uma loja de tecidos, ahhh eu estava no paraíso.





Moçambique o país das capulanas, assim como chamam os tecidos africanos por aqui, nem preciso dizer que eu amo e como eu não cozo, isso mesmo, eu não COZO! Em moçambique a palavra costurar é dita como Cozer, eu amo criar amo olhar o tecido e pensar no que podemos transformar esse tecido e fazer com que fique mais lindo. Os tecidos africanos tem uma pegadinha com os desenhos precisam ser simetricamente compostos e isso é realmente para especialistas e eu não me arrisco a cozer. Queria uma aula de costura, mas era muita atividade para uma mulher só, eu ainda amo poder cada dia descobrir uma nova costureira ou costureiro e pensar ideias juntas e poder imaginar uma nova roupa.


Eu sou do universo criativo não sou das habilidades manuais, eu não tenho muita paciência, quero que as coisas fiquem prontas rápidas, mas no universo da costura, da moda tudo tem o seu tempo. Eu consigo compreender que está tudo bem em eu não poder fazer tudo e que tem pessoas aptas para todos os tipos de atividade, porém preciso cooperar para que todos os produtores tenham o seu legitimo e merecido reconhecimento.


Vivendo no Tadjiquistão, mas especificamente na rota da seda, eu fiz questão de ir em uma plantação de algodão e colher para sentir na pele que Tudo tem um preços e valores que não fazemos ideia o quão trabalhoso é desde o plantio e a colheita. Eu senti a dor em colher algodão, assim machuquei a minha mão. Mas pude parar para admirar o agricultor a rezar para Alá agradecendo a possibilidade de não ter tido praga este ano.


Tentei por diversas vezes aprender a costurar, mamãe tentou, porém santa de casa não faz milagre. Minha primeira vez com uma professora de costura ela só falava em Tadjiqui, ou seja, era no olho e por algumas palavras que eu podia entender. Cheguei a comprar a minha primeira máquina de costura no Tadjiquistão, tive uma relação de amor e ódio, a gente não se entendia, eu não sabia costurar e não sabia quantos detalhes tem a máquina. Comprei com um rapaz que só falava tadjiqui e o Sasha(motorista) me ajudava a traduzir mas ele não falava muito bem inglês e me traduzia como conseguia. Eu voltava com a máquina toda semana e dizia que não funcionava, até o Sasha sugerir que eu pedisse a um tradutor para ir comigo, mas nada de eu aprender a cozer, não era nosso tempo. Aprendi a passar a linha na máquina, aprendi a rebobinar aprendi a ter paciencia assim como doei a máquina a um colega do trabalho que queria presentear a esposa fazia anos porém não tinha dinheiro. Ele me liga até hoje agradecendo a máquina.


Voltei ao Brasil e fiz um curso básico de corte costura com as Candances Moda afro, foi muito legal e dessa vez em Português. Hoje me sinto muito segura em fazer bainha, considero um trabalho árduo preciso dizer.


Aprendi também que implorar desconto nem sempre é justo com todos os meios de produção é negligenciar cada ato da produção, eu considero a importância de eu poder pensar nas minhas roupas. Valorizar os produtores das regiões, países dos quais eu passo e pensar em um consumo consciente em doar quando tenho em excesso e doar enquanto está em boas qualidade, de poder fazer meus bazares de troca assim como fazer meu brechó de desapego.



Diminui meu guarda roupa e acredito que nossas roupas assim como eu uma viajante, as minhas roupas precisam voar, precisa encontrar outros corpos e fazer com que nossa energia circule (como a Thalita Fonseca me ensinou), não podemos nos apegar à peças de roupa, precisamos é saber que tudo deve ser consciente, que além de ter é ser! A roupa traça a nossa personalidade, mas podemos trazer a nossa personalidade a roupa e é isso que eu temos que fazer.

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