Carta para M pelo mundo para ser lido em um Podcast, deixo a carta na integra, para vocês
eSwatini, 06 de abril de 2019
Caras Manas pelo mundo, como vai, tudo bem?
Me chamo Rebecca Alethéia e vos escrevo com muito carinho, ahhh como eu amo enviar cartas.
Sou daquele tipo de pessoa que amava enviar as cartas para as pessoas que compartilhavam seus
endereços para fazer novas amigas, nos jornais e revistas na infância/adolescência, trocar papéis
de carta ou até mesmo cartão telefônico via carta.
O meu amor por escrever cartas nunca parou, apenas foi corrompido pela tecnologia que é por
vezes mais rápida, mas sempre que possível envio cartas ou um cartão postal aos amig@s. A
certa tem um poder mágico de muitas as vezes vc se conectar sem ao menos saber quem é a outra
pessoa fisicamente do outro lado do mundo.
Aqui estou eu no menor país da África, eSwatini, antigamente conhecida como Suazilandia, são
8h34 estou dentro do parque nacional Hlane Royal, onde eu dormi rodeada de animais, impalas,
galinha do mato, rinocerontes entre vários outros animais que eu não sei nome.
Neste momento estou sentada a admirar o vale dos hipopótamo, a parte do Vale é por minha
conta... eu gosto de nomear as coisas à minha maneira, fica mais íntimo. Obviamente os rhino
não chegaram para o nosso encontro, mas o pica-pau chegou. Ele está aqui literalmente picando
o pau... ahhh(som de tristeza) infelizmente o pica-pau acaba de nos abandonar, um turista
hipnotizado pelo seu barulho o encontrou e fez o favor de avisar alguns amigos, o que fez ele se
sentir assustado e voar.
Decidi vir a eSwatini, por estar exausta após vivenciar pré, durante e pós ciclone IDAI em Beira
- Moçambique, preciso dizer que foi tudo muito intenso, pesado, difícil, momentos esses que
todos os sentimentos aparece e não há tempo de senti-los e descrevê-lo pq buscamos sobreviver,
procuramos ajudar os outros e desmoronamos em choros, risos e alegria. Alegria de estarmos
vivos!
(O pica-pau voltou)
Precisava de um tempo para mim, eu e eu mesma. Foram 21 dias em que 80% das minhas
conversas eram ciclone... estive na linha de frente para a resposta de emergência inicial... aliás já
estávamos lá, era o que nos cabia fazer AJUDAR! Eu não podia esquecer do meu lado
enfermeira que pulsava para entrar em ação. Moçambique foi o país que eu escolhi par
estar e o qual me acolheu como sua Rabeca.
Não quero falar de ciclone, foi por este motivo que vim a eSwatini, escolhi um lugar sem
internet, sem energia elétrica . Um lugar em que estivesse apenas eu, a natureza e os animais.
Ontem fui ver alguns animais, não estava nos meus planos, mas eu fui... já estava aqui, pq não?
essa foi a lição aprendida nessa fase de ciclone... talvez não exista amanhã... chovia, e fazia um
friozinho, conseguimos ver alguns animais (a rhinoceronte e seu filhote, leoa, leões, girafas,
elefantes, impalas outros que obviamente não sei o nome). Eu vim pra cá por conta dos Rhino, o
lugar referência para Rhinocerontes, na minha cabeça eu só ia vê-los, sei la por quê eu pensei
isso, uma vez que os animais vivem em harmonia mesmo um caçando o outro eles precisam uns
dos outros para viverem... como eu fui tola.
Eu queria ficar comigo, em paz comigo, poder me reencontrar, tinha encontrado uma nova
Rebecca após esse evento chamado IDAI, mas muitas coisas precisavam entrar em órbita. As
moçambicanas e os moçambicanos me ensinavam dia a dia o valor de sobreVIVER, não há o que
estremecer, estamos VIVOS. Ajudaremos uns aos outros mesmo estando destruídos e sem nada,
nos reergueremos e tocaremos a vida, pq não há o que temer... a vida segue o seu rumo.
Não tive tempo em estruturar a minha viagem, pois estava imersa nesta coisa de pós ciclone...
mas estava decidida que precisava viajar, queria algo fora de Moçambique aqui estou eu...
Pra muitos que me vêem, estou a viajar sozinha. para mim, eu estou bem acompanhada, eu estou
comigo mesma, e te digo que não existe sensação maravilhosa! (Suspiros) Como eu estava com
saudade poder me ver, me enxergar, me sentir, me tocar, me ouvir, me auto fotografar, de me ter!
Quem vos escreve é uma Virginia que gosta de tudo no mínimo organizado, meus pensamentos
estavam, mas a viagem se desorganizava quando eu mudo meus planos, eu adoro mudar planos
no meio do caminho, gosto e não gosto de vidas regradas.
Regras para que o ônibus saia no horário eu adoro, algo não muito normal por aqui, regras para
horário de acordar eu odeio.
Seguirei viagem, pq preciso dançar e extravasar nada mais justo do que ir pra capital do país l.
Mando notícias assim que possível e você, como vai e por onde andas? Assim que possível me
mande notícias suas.
Beijos
Rebecca Alethéia
@rebeccalethei
@bitongatravel
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