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Foto do escritorRebecca Aletheia

Eu amo meu cabelo!


Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada!!!


Eu amo meu cabelo... ele é livre e faço dele o que eu quero e ele faz de mim o que quer também.

Temos uma boa relação. Nunca fiz progressiva e nem fiz essa coisa que homem chama de transição.

Já tentei fazer química para que ele ficasse mais enrolado ou menos armado quando eu tinha próximo aos meus 15 anos de idade, sonhos de adolescentes e que ao menos mas nunca funcionou química no meu cabelo.


Eu era alvo de ser chamada de cabelo pixaim, ou de que eu não penteava o cabelo. Era chato isso, falavam que eu tinha sido eletrecutada pq meus cabelos ficavam arrepiado. Que bobagem e ainda tinha que usar o cabelo preso porque a sua maioria das vezes eu pegava muito piolho. Neste época eu queria que meu cabelo caísse todo, que eu fosse careca, pq só tinha coisas ruins atrelada ao meu cabelo.


Foi difícil minha adolescência, minha mãe não tinha dinheiro assim como não aceitava o uso de química na minha cabeça, o que foi ótimo! Eu não tinha referência de mulheres negras de cabelos naturais, mas eu era obrigada a ter, Contraditório, mas era essa minha vida. Enfim... sobrevivi e consegui entender o recado de mamãe.


Da primeira e raras vezes que fiz chapinha aos 20 anos de idade, aquilo me parecia a coisa mais horrível do mundo, as cabeleireiras pediam tanto que eu fiz, até ia ser de graça! Eu te juro que ir àquele salão era ter a certeza que teria minha auto estima golpeada, eu ia ser violentada sobre o que eu era, com mil advertências do que eu deveria fazer, que meu cabelo é isso ou aquilo, que eu deveria cuidar mais que eu, eu, eu e eu... eu queria fugir daquele lugar, era o lugar que me causava mal estar.

Quanto à minha chapinha, quer dizer escova com chapinha pq meu cabelo precisava ser bem domado para ficar bem lisinho. Que idiotice, mas eu estava lá, fiz esse combo duplo eu me sentia feia e pra ajudar quando eu cheguei em casa após um ventinho eu tinha tanto frizz que fui direto no banheiro e passei um óleo bem pouquinho na cabeça pra ao menos baixar os frizz, já que esse era o cabelo que diziam ter “menos trabalho”, óbvio que eu estraguei boa parte.


Eu já disse que fiquei horrível de chapinha e as cabeleireiras pararam de pedir que eu fizesse chapinha, aquilo mexia com minha auto estima e minha identidade, era notório. Eu não era eu, me sentia meio um fantoche. Ao dormir eu transpirei pela noite, molhou mais o cabelo e aquele penteado horripilante desmanchava. “Ahhh tá tão bonito” era o que muitos diziam ou ao menos reprovavam dizendo eu gosto tanto dos seus cachos. Com aquele penteado eu só usava aquele cabelo preso pq solto era horrível. Queriam reforçar a ideia de que se eu fizesse com mais frequência ia melhorando aos longos dos meses. Aí gente me desculpa, isso não é pra mim não... não curti esse treko não!

Eu amo meu cabelo, muito difícil pensar em uma adolescente sem referência e sem a possibilidade de se auto afirmar frente à tantas influências opostas, exceto da minha mãe com o falar, mas eu estava lá sendo persistente.


Eu era a menina que tinha que usar o cabelo preso na escola e ter que ser exposta em tirar o piolho na calçada de casa, parecia meio que uma exposição ao vexame de piolhenta. Minha avó não fazia por mal, ela apenas seguia as heranças africana de uma cuidar da outra e de que não havia problema ser na rua, assim que acontece na África. Mas pra mim tinha porque eu estava vendo todos os meninos brincando e eu? Eu estava com a cabeça encostada na perna da minha avó com um pano branco esticado e com todos os piolhos que ela tinha matado um a um. Das pessoas e na sua maioria as crianças dizerem piolhenta. Mas minha avó se sentia orgulhosa porque ela estava cuidando de mim... depois de um tempo ela não fazia isso mais na rua, usava a lavanderia ou o quintal de casa. Acho que ela percebeu a exposição que eu sofria.


Eu já tive vontade de pentear bem forte me cabelo até que caíssem todos os cabelos pq como diziam: “nossa vc tem tanto cabelo!” Talvez se eu arrancasse boa parte do meu cabelo ia dar menos trabalho para mim é eu não ia atrair tantos piolhos. Mas ao mesmo tempo eu queria jogar o meu cabelo de um lado para o outro como o sonho de uma jovem menina preta.


Minha mãe fazia tranças soltas, com o meu cabelo mesmo, ficava bem simplezinhos, mas ficava legal, eu achava style e diferente da chapinha, mas essas tranças ela fazia quando eu era adolescente e próxima aos meus 17 anos, eu já era uma mocinha. Eu tbm não tinha referência de mulheres que usavam tranças na época mas eu usava. lembro até hoje as meninas populares e “bonitinhas” da escola perguntando: vc lava o cabelo ? Eu fiquei constrangida com aquela pergunta. Obviamente eu lavava! As perguntas não pararam por aí: “como lava ?” Eu menti e disse: que tirava todos os dias as tranças e fazia novamente após lavar. Elas saíram tão contente com a reposta do tipo: ufa ela é limpinha - Até tocaram em meus cabelos depois da resposta... lembrar disso é pesado!


Me lembro na faculdade eu usando vários penteados, eu já tinha 19 anos e sabia minimamente quem eu era. Tinha o da mamusca, os com turbante, maria Chiquinha com vários elásticos coloridos. Eu era ousada e acho que era mais legal pq eu tirava foto 3x4 para documentos com todas essa facetas e colocada nos registros profissional e da universidade. Hahahahahaha eu juro que eu me superava a cada dia, eu era louca mesmo.



Eu achei uma referência nos meus 19 anos, uma referência de autenticidade de poder, eu sempre via uma mulher negra ela era baixinha na minha rua passar desfilando com seu estilo cluber na minha janela, eu admirava, ela tinha tantos piercings e era autentica, ela era ela! Depois descobri que era professora o que me fez admira-la ainda mais. Gostava disso me dava mais forças pra eu continuar a ser eu.



Eu sempre fui do tipo de pessoa que usei muitos penteado nessa cabeça, sem medo de ser feliz e sem pensar o que os outros diziam apenas mantinha minha identidade, meu cabelo é meu e eu sou do meu cabelo e vivemos em harmonia. Nos deixem!!!!






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