Ouvi ruídos desse evento e fui lá ver e me admirei me impressionei e precisava compartilhar um pouco mais da cultura Moçambicana com vocês. Trago à vocês um manuscrito que foi lido por Brejeneve como fala de abertura do festival de Mandoa Muxungue na Beira no dia 24 de junho de 2019 na Universidade Pedagógica.
Ouvi ruidos desse evento e fui lá ver e me admirei me impressionei e precisava compartilhar um pouco mais da cultura Moçambicana com vocês.
Este momento é muito especial para nós, mas antes de falar dele, recembam os nossos calorosos cumprimentos de boas vindas com sabor a mandoa misturada com gastronomia.
O nosso Lema, expressa um sentimento profundoque todos os sofalenses têm: o de dançar Mandowa em paz, por isso dizemos com toda a propriedade que – Dançar Mandowa é contribuir para o clima de paz e convívio dos povos.
Em 2017, um grupo de artistas da Beira preocupados com a saúde de nossa música num Workshop na Associação Huodjo perguntavam ao Julinho se continuaria a cantar eternamente o repertório de Walter dos Djaakas. Ele respondendo disse que não! Estava a compor. Indagado ainda sobre que ritmo estava a compor, respondeu que estava a compor no ritmo Mandowa. Então o Brejneve propões a ideia de um festival com o nome Mandowa para exaltar esta expressão artística do sul da Província de Sofala e o mesmo marcaria o início dos festivais para resgatar as danças que estão em vias de extinção na nossa Província.
Nesse quadro, foi consensual iniciarmos por exaltar a Música e Dança Mandowa enquadrada nos instrumentos Xilofones, onde muitos grupos praticantes só restaram com a dança não tendo o instrumento que lhe é peculiar – a Marimba.
Digníssimos presentes,
A Mandowa é referenciada nas culturas do povo Shona. Falando só da dança tem antecedentes na etnia Vandau espalhada ao longo do rio Save, referimos-nos aos distritos de Govuro, Mambone onde esta língua é falada, passando a Save, encontramos em Machanga que pertencia a Chibabava e no Buzi. Na Parte insular as ilhas de Divinhe, Chiloane, Maonga, Mutambanhe e localidade de Ampara.
O termo Mandowa deriva provavelmente da coreografia que num dos passos os bailarinos executavam caindo. Os depoimentos indicam que na coreografia, os passos tinham que acabar com uma queda. Etnologicamente em Ndau vem do verbo Ndaym Kuwa “cair”, então quando a queda é feita por um dançarino ele diz, Ndowa sendo execussão de muitos chamou-se Mandowa designando o conjunto dos dançarinos que realizando coreografias que terminavam caracteristicamente em queda. Varia no número de marimbas mas são usados três batiques nomeadamente, Zimay (mãe grande) ou base, Mbaula do meio ou chambaula. Chinkwidingwi (marcação ou cadencia) que dialogavam com duas marimbas, numero considerado de orquestra completa de Mandowa. Aqueles que tocam batuques e marimba em conjunto, na cultura Vandau não existe outra dança a não ser só Mandoa.
A importância de Mandowa, surge como dança de regozijo, dança de festa, casamentos tradicionais, recepção de dirigentes, tomada de posse e nunca dança espiritual. As canções são feitas em varias vozes no contexto lírico, expressando o dia a dia da sociedade, critica social e a educação.
Na cidade da Beira, a dança Mandowa entra por volta dos anos 40 e 50 com os estivadores que vinham para a maior empregadora da altura, estamos a nos referir dos Caminhos de Ferros de Moçambique (CFM) vindouros de Inharingue, Chiloane e Ampara, Buene, Divinhe, Maonga, Mutambanhe, Machanga a quando da sua fixação na Beira por razões laborais como estivadores dos CFM, concentrando-se na Munhava acolhendo maior densidade demográfica destes trabalhadores que trouxeram esta expressão de dança.
Na história da Mandowa na Beira, aparecem como tocadores o Senhor Mathere e seu filho com necessidades especiais devido à dificuldades visuais, o senhor João Mambasse Gundana, depois aparece o próprio tocador exímio de batuque que veio de Ampara chamado André, que na fonética da língua local soou como Andére. Ele participou do Primeiro Festival Nacional da Cultura em 1978.
Não existem mestres catalogados reclamando a autoria da mandoa antes de 1974, mas nos anos 40 houve alguns registros de outros valores culturais. Mandowa após a Independência aparece para entreter nas rádios.
Este festival procura encontrar o espaço da Mandowa como uma instituição, como uma marca, uma plataforma de diálogo a nível da canção e dança na Província de Sofala, um elemento para alavancar o turismo cultural.
A zona de Beira board foi o epicentro da Mandoa junto ao acampamento dos CFM. Numa fase posterior Senhor Macuvaje Meno, antigo funcionário da Meteorologia (Fabricava e tocava marimba), seus toques ficaram registrados no disco Ndongue junto com o Senhor Antonio Muzambara no ano 2000.
Bai Sulemane, um comerciante de Chiloane entusiasta desta dança, investiu seu capital na compra da madeira da marimba em Zandamela (Inhambane) o seu fabrico pelo mestre Macuvaje Meno, tocador de marimba no Grupo de Mandowa São Jose da Munhava. Assim foram fabricadas as marimbas do Grupo de Mandoa São Jose da Munhava, cujos elementos pertenciam a Paróquia do Matacuane que encantava a comunidade da Igreja do Matacuane e continua a encantar.
Hoje ainda existem imbondeiros da Mandoa no Grupo São José da Munhava como o Velho Muzambara, Senhor Regeno e outros grupos. Mandowa também é praticado por grupos de jovens dada associação Tagumanicanave.
Escolhemos o posto Administrativo de Muxungue por ser um entrocamento comercial onde cruzam caminhos e destino para o centro, sul do país e no interiro dos distritos de Chibabava, entroncamento para Machaze.
Provavelmente usando esta via mais curta para o interland, passaram por aqui no antigamente nossos pais indo e vindo da África do Sul e Zimbabwe, sobretudo na época festiva do fim do ano para passar as festas com os seus parentes.
Por essas alturas, os Mandjoni Djoni trazendo os seus fatos adquiridos na Terra do Rand ou em Bulawayo ou Solisbury, nome dado pelos ingleses à capital da Rodésia para Gaza e para Sofala e Manica usando a fronteira de Chimanimani, se deleitavam os movimentos rítmicos da marimba, embalados pelo rufor dos tambores e o ondular contagiante das capulanas. Era dança aos pares dando destaque aos maridos acompanahdos com suas esposas.
A onda do projeto Mandowa irá continuar com o resgate de danças que estão em vias de extinção pretendendo realizar movimentos identicos na zona centroe norte da provincia com as dan;cas Kateco, Bunanem Xiquema, Mutate, Nhamadaka e Nfukula de forma faseada só para citar alguns exemplos.
Queremos vincar a nossa determinação de ainda mais fazer em prol da música e dança e fazer de Sofala e contribuir a ampliação dos destinos turísticos deste canto de Moçambique. Queremos transformar Mandowa numa Marca.
BrejNeves,
Beira, aos 24 de junho de 2019.
Deixo aqui o Link da entrevista de Jaime do Grupo Tacomanicanave
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